Saturday, July 07, 2007

Sarau Av-Rio - palestra: Marcus Ferrer


O último Sarau mensal da AV-RIO, como de praxe no primeiro sábado do mês [07/07], realizado no Centro Cultural Oduvaldo Viana Filho, mais conhecido como Castelinho do Flamengo, contou com a ilustre presença de Marcus Ferrer no ciclo de palestras iniciada no mês de junho por Nícolas de Souza Barros.
Antes porém, os associados puderam tocar e trocar idéias sobre seus respectivos repertórios. Tivemos uma significativa variedade de obras apresentadas passando pelos tradicionais compositores do "violão brasileiro" como Dilermando Reis e João Pernambuco até compositores contemporâneos de diferentes linguagens como Edino Krieger e Fred Schneiter, além de arranjos dos próprios associados, tudo sempre num clima bem descontraído e informal.

foto: Armildo Uzeda interpretando composições do seu mais recente CD

Marcus Ferrer iniciou a palestra contando um pouco da história da Viola de Arame no Brasil, vinda com os primeiros colonizadores ainda nas primeiras décadas do século XVI. Como bem ressaltou, a Viola de Arame vivia um período de grande popularidade na Europa, especialmente na península Ibérica, ao lado evidentemente de outros instrumentos cordofônicos tradicionais da região.

foto: Marcus Ferrer

Avesso a academicismos, após uma breve introdução, Ferrer, para deleite de todos, brindou-nos com algumas peças de seu repertório atual. Iniciou com o Estudo n.5 de Radamés Gnatalli, original para violão solo, mas que utiliza uma das varias afinações da viola de arame. A obra evoca a sonoridade e o clima bucólico do interior brasileiro onde Viola ganhou espaço e popularidade se tornando um instrumento símbolo desta cultura. Em seguida, Ferrer tocou o Prelúdio N.5 de Guerra Peixe, outra peça característica que fora escrita inclusive com a indicação, segundo o intérprete, de que poderia ser executada também na viola [além é claro de sua mais do que conhecida execução ao violão]


foto: Marcus Ferrer executando uma de suas violas

Tendo acabado de ingressar no Doutorado em Música da UniRio, Ferrer contou-nos que um dos pontos de partida para sua pesquisa fora o fato de praticamente não haver encontrado referências da Viola de Arame no Rio de Janeiro, instrumento encontrado em praticamente todo o Brasil, entranhado nos mais diferentes universos simbólicos, sob as mais variadas formas e afinações.
Partindo do princípio hipotético de que se a Viola estivesse presente na cultura musical carioca desde o nascedouro dos seus gêneros musicais mais típicos, ela certamente estaria presente no samba ou no choro, Ferrer vem empreendendo um trabalho de arranjo de obras tradicionais do repertório brasileiro para a Viola de Arame. Durante a palestra executou choros de Pixinguinha, como "carinhoso" e o famoso "tango brasileiro" Odeon de Ernesto Nazaré. Compositor de formação, com bacharelado e mestrado em composição pela UFRJ, o músico apresentou ainda composições próprias como o "Maxixe para Chiquinha" [homenagem a Chiquinha Gonzaga] e Kalango.


Foto: Marcus Ferrer

Preocupado em diversificar a imagem e as possibilidades da Viola de Arame, Marcus Ferrer anunciou um projeto, já aprovado por órgãos de fomento, de um CD composto inteiramente por composições inéditas de compositores de renome no cenário nacional, tais como Edino Krieger e Marisa Resende entre outros. Será uma grande experiência ouvir as possibilidades da Viola numa linguagem de vanguarda, além da possibilidade de desconstruir no imaginário coletivo a idéia do instrumento como algo exclusivamente ligado ao ambiente rural e ao folclore brasileiro.

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